A VIDA É SEMPRE PREFERÍVEL OU O MONÓLOGO DO SAL PARA LHE COMPLETAR A MEDIDA
acção poética / teatro electroacústico
Espectáculo de poesia sonora/new op-era de Miguel Azguime, no qual o compositor, o poeta e o performer se voltam a reunir num só a solo, para uma nova incursão pela palavra enquanto música e pela música enquanto palavra. Work in progress à procura de um novo devir, regresso à palavra e às suas transformações electrónicas, reflexão sobre o homem e o mundo, onde a vida é sempre o caminho e o lugar preferível.
MISO ENSEMBLE
Miguel Azguime · composição musical e textual, voz, electrónica em tempo real
Paula Azguime - difusão sonora
Realização técnica: Miso Studio
Produção: Miso Music ©2021
Discurso sobre o filho-da-puta
FERNANDO MORA RAMOS - encenação,
MIGUEL AZGUIME - composição
Quarteto de Cordas Vocais: Cibele Maçãs / Fábio Costa / Marta Taveira / Nuno Machado Galeria de Retratos de FDP'S: José Serrão Estátua do FDP: Mariana Sampaio Iluminação: António Anunciação / Lucas Keating Cenografia / Figurinos: Fernando Mora Ramos
A música no “Discurso sobre o filho-da-puta”
Desde há muito que procuro fomentar no meu trabalho, um estado de “integração” entre o semântico e o fonético - música enquanto texto e texto enquanto música, talvez pelo ofício múltiplo que caracteriza a minha actividade artística, repartida entre o intérprete, o performer, o compositor e o poeta.
Abordar este texto prodigioso estava faz tempo no horizonte, não só por aquilo que enuncia e pela sua intemporalidade – e como tal actualidade, mas também porque nele se projectava uma cumplicidade crescente de ideais e de pesquisa com o Fernando Mora Ramos, por conseguinte a vontade de uma parceria criativa entre o Teatro da Rainha e a Miso Music Portugal.
O “Discurso sobre o filho-da-puta” oferece-nos do ponto de vista musical uma quase partitura, pelas características com propriedades sonoras da escrita poética de Alberto Pimenta, e contém pois, desde logo, os elementos propícios a uma repartição por várias vozes, de um personagem simultaneamente uno e múltiplo.
Por outro lado, é ritual e conforma ironicamente, práticas comuns aos concertos de música erudita, tanto pelo protocolo exacerbado, como pela carga simbólica, mas também pelo rigor e a depuração do gesto, do gesto poético tornado gesto musical.
O “Discurso” acolhe assim um quarteto de actores, como se um quarteto de músicos se tratasse, quarteto de cordas vocais pois, para dar voz a um discurso coral no qual a palavra se faz música e se organiza em timbres, ritmos, harmonias, melodias; ora em uníssono, ou em homofonia, ou em heterofonia, ou em polifonia, ou em contraponto.
Assim mais do que ser música acrescentada ao texto poético de Alberto Pimenta, a música que aqui está em causa é sobretudo o reconhecimento e o desvendamento da música que o texto já contém, dando a ouvir diversamente, dando a ouvir de novo; e assumindo a palavra na sua vocalidade plena; e a voz falada nas suas extraordinárias possibilidades de emissão múltipla, sonoras e expressivas.
Miguel Azguime